sábado, 6 de novembro de 2010

nada,

          

           Entrei, sem prestar muita atenção em quem estava ali. Só queria ter algo pra beber enquanto pensava nas futilidades da vida. Pelo menos até ver você.
           Fazia tempo que eu não te via, tempo que não pensava em você. Sentei longe de você, pra ficar observando, sem precisar fazer alguma coisa caso você percebesse.
           Mas aí você percebeu. E ainda se atreveu a me enviar um sorriso. Ah, seu sorriso... Ele combina perfeitamente com seus olhos laranjas, e com seu cabelo que você insistiu em muda-los de cor, me fazendo oscilar sobre a mesa.
           Vi pessoas chegando e fui ao banheiro, para que pegassem minha mesa e eu tivesse uma desculpa para sentar próxima de você. O garçom não interferiu elas a sentarem, e funcionou.
           Sentei então mais próximo de você, onde conseguia escutar a voz de seus colegas discutindo sobre o que comprar. Tinha medo de olhar pra você e você estar olhando pra mim. Você devia saber que isso não me faz bem.
           E então, você falou.
           Ah, a sua voz...  Não era doce, era grossa. Forte. Causante. Não combinava com seu jeito feminino. E me fez rir. Me fez rir baixinho, pra que você não percebesse. De cabeça baixa.
           Fiquei observando você conversar, fingindo estar prestando atenção somente no meu refrigerante. Mas, por culpa sua, caiu sobre a mesa uma bebida escura e borbulhante, pra variar.
           Comecei a limpar com um guardanapo, e então ouvi seu riso. Alto. Lindo. Direcionei meus olhos aos seus, os encontrando. E então fiquei envergonhada ao perceber que estava rindo de mim, desengonçada. Sentei à mesa e sorri para o garçom que fazia meu serviço. Pedi outra coca-cola e tentei prestar mais atenção. E você não parava de olhar pra mim. Olhava sério, ria, e eu fazia o mesmo. E ficamos naquele jogo bobo.
          Foi assim a noite inteira. Conversa de olhares. Até você me tocar, ao ir embora, e me deixar de lembrança somente seu cheiro. Novamente.
 
  clarissa,

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