domingo, 30 de janeiro de 2011

Disfarce cotidiano.


Em meio a pessoas e prédios. Mascáras, máscaras. É um baile a fantasia!
- Olha, aquela ali, tem um círculo na cabeça!
- Pra onde ela tá indo?
- Tem um cara com ela, ó!
- Ele é bonitão...
- Ali fica um dos quartos de hóspedes.
- Ah, acho que eles não gostam de muita gente, né? Preferem ficar em seus cantos.
- Talvez. Olha, tem uma garota com uma espada ali!
- Ela parece boba...
- Acho que ela só não é muito realista. É bem bonita.
- Hey, olha aquele garoto fumando ali!
- Ele tá sem fantasia... Parece estar confuso. Mas ele não é novo demais para estar aqui?
- Talvez ele só dê a impressão de ser novo, né?
- Estão insistindo pra ele beber...
- Que coisa horrível! Ele é uma criança.
- Vixe, tá tendo briga naquela mesa!
- Acho que aquele cara é marido da mulher que está com o garoto.
- Então ela tá traindo ele? Que tragédia... Ele tem mó jeitão de empresário, né?
- Hey, vamos embora.
- Ah, agora? Está divertido, não está?
- Ficar espiando pela janela da boate? Está.
- Vamos voltar outro dia?
- Essa foi a festa a fantasia com menos fantasias que eu já vi.
- Porque diz isso? Só tinha umas 4 pessoas sem fantasia!
- Não. Estavam todas sem máscaras. Mas só neste lugar, pela primeira vez.
- As vezes não entendo o que você fala...
- Vamos logo que ainda temos 3 filmes pra ver e 3 bolos pra cozinhar estar noite!


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

prazer privado.



          Não que ela não o amasse, sabe. Pelo contrário: ela gostava dele e gastaria qualquer gota de sangue, qualquer suspiro, qualquer  tempo, qualquer coisa para estar com ele, e sabia sem nenhuma dúvida o quanto ele a amava, e como ele gostava do aconchego dela.
         A questão é que ela o deixava solto: ele tinha relações com outras mulheres, de vez em quando. Traição? Que nada! Ele nunca teria coragem de trair a sua amada, muito menos por a prova o seu amor. Se ele gostava? Lhe causava prazer, as outras mulheres. Nada mais. Elas não lhe faziam rir, e seus beijos e abraços nunca chegariam aos pés do conforto da mulher que morava em sua casa. E aí você se pergunta porque ele faria isso, então: Era só que ele não gostava de perder aventuras. Mas para ouvir as histórias, ele precisava de confiança: e como uma mulher se sentiria mais segura se não desejada? E então ele doava seus olhares, e elas lhe confiavam seus segredos.
        Sua mulher? Para ela as melhores noites era as que ele ia lhes contar os segredos merecidos: contava-lhes tudo, como histórias, mesmo. Ele era o narrador, e fazia questão de dizer-lhes os detalhes de casa toque. Ela? Ela gostava, ora! Ela adorava histórias, e se ele era o protagonista, melhor ainda. Isso só a fazia desejá-lo mais. E não, ela não se sentia a outra: todos os dias ele a abraçava, como quem chega de uma viagem longa morrendo de saudade, e dizia que a amava, que ela era única. E era verdade.
        Vinham então os vizinhos: riam da mulher, traída. Vixe! Se eles soubessem que ela ria deles por acreditar em seus teatros.
        Nada importava pros dois, era só eles, eles. Ela nem ousava perguntar se ele preferia ela as outras, sabia a resposta, sem sombra de dúvida.