quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

suicídio.

 

   Andei descobrindo que você é um assassino.
   Na maioria dos dias, quando você desaparece com a brisa sem deixar vestígios.
   Me mata de desejo, de saudade, de esperança. Tudo isso causa uma dor imensa, indescritível e surreal.
   Fica essa coisa aqui, e eu perco meu dia morrendo.
   Pare de criar a sua pena de morte, e me ressuscite.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cocoricó.



Era assim: dois, dois, dois. Amigos, vixe, amigos.  Conheciam-se a pouco tempo, mas já tinham um punhado de intimidade.
Ela entrou no quarto:
- Vamos viajar.
- Terra do Nunca?
- Brasil.
- Avião?
- Carro. É uma fuga, pegue os óculos escuros, a maquiagem e a tinta pra cabelo. Não podemos ser reconhecidos.
- E se a polícia pegar a gente?
- Vamos presos.
- Meu óculos é o marrom.
E assim foi. O carro na garagem com a tampa traseira rabiscada de ‘’inocentes’’: cúmplice. Saíram, com os cabelos pintados de azul e os óculos. E há quem ganhou um bigode. Imagina se a polícia acha eles?
Iam pela estrada, cantarolando, fingindo estar bêbados, porque é assim: tudo fingimento. Gente importante não bebe.
Passaram em um local para comer. A garota saiu do carro e o menino a acompanhou com sua jaqueta de couro. Comeram uma pizza, comida de gente ruim, sabe. E ficaram satisfeitos ao sair do local sem ter pagado a conta (tinham só deixado uma pequena gorjeta para o garçom com o valor da pizza, do refrigerante e dos bombons embaixo do porta-quardanapo.)
Viram um policial: a garota colocou uma cartola. Ele mostrou os documentos, e olhou por cima dos óculos marrons. Saiu tranquilamente: riam. Tinham enganado o policial, tinham. E era tudo fingimento. Essa coisa boba, essa aventura. Nem se deram conta eles que foram pegues pelo amor.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

fim dos tempos.



Ia no lado da janela, torcendo para que as gotas mais encantadoras da chuva lá de fora ganhassem a corrida que eu propunha.
Ganhavam uma, duas, perdiam.
Subiu no ônibus um cara alto, cabelos loiros cortados em navalha, uma calça jeans desbotada e um converse mal-lavado. Sentou-se na cadeira ao meu lado e começou a observar a janela. Mais uma gota na qual eu apostara ultrapassou a janela e eu sorri orgulhosa. Olhei pro lado e alguém ria de mim.
Era o garoto. Ele parecia perceber sobre minhas apostas, mas acho que só eu sou boba o bastante para torcer mais para gotas em dias de chuva do que para o meu país em dias de copa, e mais boba ainda a ponto de criar isso. Decidi abaixar a cabeça e esperar meu ponto, aquele maldito desconhecido me fez ficar com vergonha.
E era incrível como ele conseguia se comunicar comigo somente com seus olhos. Jamais alguém conseguira me parecer tão...íntimo, profundo. Parecia me conhecer, como se minha vida se passasse para ele sobre meus próprios olhos. Nunca havia visto alguém tão digno. Eu queria conversar com ele, eu queria. Mas tinha vergonha, receio, medo de estar enganada.
         Mas então chegou minha hora, minha hora de descer, de ir embora, de dizer tchau. Pensei em me deixar levar, em pegar outro ônibus depois para voltar, mas desisti. Levantei-me, ele olhava para mim, dizia adeus, e eu respondia. Queria ter ouvido a voz dele. Mas aí eu desci do ônibus, e tudo se perdeu. Só lembrava do seu riso, do seu sorriso, do seus olhos claros. Sentia um frio, uma dor, um desespero. Um arrependimento profundo de não ter falado com ele. Sabia que isso não ia se repetir, que não ia encontrar alguém como ele. Sabia que era aquilo que eu mais queria há tempos e eu deixei fugir, uuh, com o vento. A esperança de reencontrá-lo era pouca, vagava. E então tudo não fazia muito sentido. O modo como as coisas são, sabe. Se eu tivesse lhe direcionado a palavra, tudo teria mudado. Talvez ele não fosse o que eu esperava, talvez ele não me respondesse. Mas pelo menos essa culpa iria embora, essa culpa.
         Decidi fingir que foi tudo um sonho. Tudo algo do meu subconsciente, alguém especial criado por mim. Sabia que não era, mas pensar assim criava um alívio, um pensar de que eu poderia reencontrá-lo, bastava pensar muito nele, e plim! Ele voltaria, eu teria outra chance.