terça-feira, 4 de janeiro de 2011

prazer privado.



          Não que ela não o amasse, sabe. Pelo contrário: ela gostava dele e gastaria qualquer gota de sangue, qualquer suspiro, qualquer  tempo, qualquer coisa para estar com ele, e sabia sem nenhuma dúvida o quanto ele a amava, e como ele gostava do aconchego dela.
         A questão é que ela o deixava solto: ele tinha relações com outras mulheres, de vez em quando. Traição? Que nada! Ele nunca teria coragem de trair a sua amada, muito menos por a prova o seu amor. Se ele gostava? Lhe causava prazer, as outras mulheres. Nada mais. Elas não lhe faziam rir, e seus beijos e abraços nunca chegariam aos pés do conforto da mulher que morava em sua casa. E aí você se pergunta porque ele faria isso, então: Era só que ele não gostava de perder aventuras. Mas para ouvir as histórias, ele precisava de confiança: e como uma mulher se sentiria mais segura se não desejada? E então ele doava seus olhares, e elas lhe confiavam seus segredos.
        Sua mulher? Para ela as melhores noites era as que ele ia lhes contar os segredos merecidos: contava-lhes tudo, como histórias, mesmo. Ele era o narrador, e fazia questão de dizer-lhes os detalhes de casa toque. Ela? Ela gostava, ora! Ela adorava histórias, e se ele era o protagonista, melhor ainda. Isso só a fazia desejá-lo mais. E não, ela não se sentia a outra: todos os dias ele a abraçava, como quem chega de uma viagem longa morrendo de saudade, e dizia que a amava, que ela era única. E era verdade.
        Vinham então os vizinhos: riam da mulher, traída. Vixe! Se eles soubessem que ela ria deles por acreditar em seus teatros.
        Nada importava pros dois, era só eles, eles. Ela nem ousava perguntar se ele preferia ela as outras, sabia a resposta, sem sombra de dúvida.

3 comentários:

  1. Uma descrição do quadro de relacionamento aberto do século XXI. E desta forma eu pergunto "quais as expectativas de que isso se torne a forma natural de um relacionamento? Nem comento..."

    "Você merece mordidas, senhor!",errr... o que eu devo dizer disso?

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  2. "Mordidas é o meu carinho, moço. Não precisa dizer nada, só aceitar."
    Odaxelagnia é o nome pra isso (Desejo incontrolável de mordiscar carinhosamente - ou não - os outros).

    huuum, gostei do que disse sobre "não existe amor o suficiente pra isso". Tudo isso porque o sentimento de amor hoje se mistura muito com posse, dado que existem várias pessoas que sentem atração por tentar ficar com namorado(a) dos outros, dentre outros fatores de perda. Além do fato de que somos criados com a fantasia do "relacionamento perfeito" em que achamos a pessoa certa, nos casamos, teremos filhos e seremos felizes para sempre. As pessoas sempre carregam essa esperança. Mais sábio seria mover esforços pra transformar cada relacionamento como se fosse o tão esperado, mas em vez disso... ficamos sempre esperando. (dramático ein! Nem eu sabia que era bom nisso).

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  3. Olhaê, agora ela me visita até de fake.

    Olha, misturado naquelas doenças lá que você mencionou até que odaxelagnia não é tããão preocupante assim, mas... vai saber...

    Percebi lá no orkut que você é gosta de cultura japonesa (otame, é isso?). Vai ao Sana fest agora?

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